domingo, 23 de agosto de 2009

O perdão e o verdadeiro arrependimento

Hoje vou falar do perdão. Não vou fazer aqui uma apologia às virtudes de quem perdoa ou citar exemplos de perdões famosos, mas sim falar sobre aqueles que não perdoam e, paradoxo total, acabam não sendo perdoados por aqueles que perdoam. Confuso, né? Antes que a frase fique mais complicada ainda, vou me explicar.
Não sou o tipo de pessoa que prega o perdão incondicional. Também não saio aconselhando a vingança ou que todos guardem mágoa, afinal, como dizia Shakespeare: “Guardar ressentimento é como tomar veneno e esperar que a outra pessoa morra”. Apenas respeito o direito de quem não quer perdoar alguém que o magoou de forma muita intensa. Não acredito que todo mundo tem de perdoar. Acredito que se deve perdoar quando seu coração verdadeiramente sente isso. Perdoar apenas para ficar bem perante à sociedade não vale nada.
Recebo quase todos os dias mensagens contendo histórias sobre o perdão. Conversando com as pessoas, vejo que a maioria delas, pelo menos é o que aparentam, acredita firmemente que perdoar realmente é uma grande virtude. Em todos os casos, percebo o seguinte: quem não perdoa é o ruim, a pessoa de coração duro. Quem magoou, machucou, traiu, passou para trás, roubou, enganou... bom, esse se arrependeu, então está tudo certo.
Traduzindo: a mágoa, a dor, a traição, o roubo, tudo deve ser esquecido num passe de mágica apenas porque o outro decidiu se arrepender. E vamos e convenhamos: alguém aí já viu quem está bem se arrepender de alguma coisa? Alguém já viu o cara que traiu a mulher se arrepender enquanto seu romance com a outra vai bem? Ou o arrependimento surge depois que a coisa degringola?
Podem notar: normalmente o arrependimento surge quando as coisas dão errado. Aí é fácil olhar para trás, ver a burrada feita e pedir perdão a quem foi magoado. O interessante é que aí quem sacaneou passa a ser o bom, e quem não perdoa vira o vilão da história. Ou seja, pode aprontar o que quiser, porque no final, basta se arrepender que está tudo certo: seus pecados serão perdoados, você será bem visto e, a pessoa a quem você machucou, será considerada ruim.
É claro que existe o arrependimento sincero, que vem sem que a pessoa esteja na pior. Eu mesma passei por isso com uma amiga que havia me magoado muito e, três anos depois, muito melhor de vida em todos os aspectos do que antes de termos rompido a amizade, me pediu perdão. Nem acho que eu tinha de perdoar nada, que quem perdoa é Deus, mas voltamos à amizade porque senti sinceridade em seu arrependimento. Mas não é sempre que isso funciona.
Por isso, acho que cabe aqui uma reflexão. Assim como o perdão deve ser sincero, o arrependimento também. De nada adianta se arrepender apenas porque está em uma situação ruim, assim como vale menos ainda perdoar aparentemente, mas manter no coração a mágoa. O mais importante, acima de tudo, é não alimentar no coração o ressentimento. Conseguindo eliminar esse sentimento, já está de bom tamanho. Deus não vai condená-lo por não perdoar a quem te magoou. Quanto ao que os outros acham... Bem, os outros são os outros, e só.

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