domingo, 20 de setembro de 2009

O medo de viver

Morro de medo de barata. Medo não, tenho verdadeiro pavor, um sentimento tão forte que, quando vejo uma, sou incapaz de me mexer. Se ela estiver no meu caminho, deixo de ir até onde pretendia, e procuro me esconder até que alguém a mate. Parece exagero, mas não é. Um dia, conversando com um amigo, ele ficou impressionado com a minha visão das baratas:
- Odeio quando a barata some, sabe?
- Por que?
- Porque quando ela se esconde eu não tenho como me defender.
- Defender do que????? Estamos falando de uma barata, não de um crocodilo!
- Ah... para mim, a barata é um ser mutante!
- Meu Deus, por que isso?
- Ela tem o dom de me paralisar!
Vejo que a maioria das pessoas acha exagero o medo que sentimos de certas coisas. Mas isso é instintivo do ser humano. Eu mesma já me peguei rindo dos medos de outras pessoas. E hoje tento não fazer mais isso. Porque os medos surgem sem que saibamos como, e muitas vezes nos dominam de uma maneira que nos impede de fazer muita coisa.
E aqui não estou falando de medo de barata. Estou falando do medo de viver. Vejo muita gente que existe, mas não vive. Não ama, não sai do emprego que detesta, não tenta fazer aquele curso com que sonha há anos, não assume sua homossexualidade, não termina um casamento estagnado.
Vejo esses medos como a barata que me impede de sair de casa porque está para a minha porta. Qual o poder que ela tem de me paralisar? É um inseto, pequeno, que com apenas uma pisada eu esmago. Ainda assim, muitas e muitas vezes voltei para trás porque ela estava ali, me desafiando. E parece que, quando mais medo a gente tem de uma coisa, mais ela nos persegue.
E o que nos impede de realmente viver? Não vou mais me apaixonar porque posso me machucar, ouço muita mulher falar. Não vai se apaixonar e deixar de sentir aquele frio no estômago quando o celular recebe uma mensagem da pessoa adorada? Deixar de acordar com um beijo na nuca, ou um bilhete no travesseiro dizendo o quanto é amada?
Não vai atrás de outro emprego porque “todos os lugares são iguais”. Será mesmo? Se todo lugar é igual, por que então não tentar e fazer a diferença? Porque não buscar algo além do trabalho monótono e realmente usar sua inteligência e criatividade para uma tarefa prazerosa?
Não termina o casamento porque “e se eu ficar sozinho depois”? Assim, mais fácil ficar num relacionamento fracassado, infeliz (e fazendo a outra pessoa também infeliz), do que tentar encontrar um novo amor ou simplesmente ficar sozinho, mas em paz consigo mesmo. Será que vale a pena dividir a cama com alguém que não faz mais o nosso coração disparar?
Espero que as “baratas” que impedem a todos de realmente viver sejam esmagadas. Eu ainda terei de lidar com elas, mas pelo menos o medo de viver eu já perdi. E isso foi a melhor coisa que me aconteceu na vida. Quanto a esse inseto asqueroso... um dia eu consigo dar a chinelada certeira e tirá-la da minha porta.

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