Ao escrever esse texto, ainda estava emocionada pelo final da novela
“Amor à Vida”. Já disse aqui que não assisto novela – e realmente não tenho o
costume – mas desde “Avenida Brasil”, que acompanhei na reta final, acabei me
vendo tendo simpatia pelos vilões marcantes, e Félix foi mais um que me
conquistou.
A expectativa pelo “beija-não beija” de Félix e Nico alvoroçou os telespectadores.
De um lado, aqueles defendem acima de
tudo os “valores familiares”, mas não veem nada de errado em cenas de
violência, traição, roubo, assassinato. De outro, aqueles que, como eu, a despeito de
não serem homossexuais, acreditam que cada um pode e deve ser feliz do jeito
que quiser – desde que não prejudique ninguém.
A cena do beijo levada ao ar na última sexta-feira vinha sendo
esperada como final de Copa do Mundo. Em bares, segundo colegas, todo mundo
estava ligado na televisão esperando o desfecho da novela, e os aplausos foram
estrondosos quando finalmente beijo saiu. No Facebook, os comentários ao fim da
novela eram de parabéns ao autor e à Globo pela maneira como a cena foi
conduzida, sem vulgaridade, mostrando o amor existente entre um casal. Eu
estava na casa da minha sobrinha em Bauru e não contive as lágrimas, afinal,
como amiga de muitos casais e solteiros homossexuais torço pela felicidade
deles.
Mateus Solano, com sua mais que brilhante interpretação de Félix,
conseguiu angariar a simpatia de muitos telespectadores. Homens sisudos, que
jamais assistiam novela, se pegavam parados em frente à televisão para ver os
trejeitos e as tiradas do homossexual mais odiado – e em seguida mais amado –
do Brasil. Uma campanha foi feita no Twitter por famosos e anônimos pedindo ao
autor da novela, Walcyr Carrasco, para que o beijo acontecesse. Foram gravados
três finais da novela, e foi levado ao ar aquele que o público mais queria.
A cena foi muito mais bonita e tocante do que eu esperava. Um beijo que
acontece entre qualquer casal ao se despedir no dia a dia, entre qualquer casal
que busca ficar mais tempo junto na correria do nosso cotidiano. Nada de
vulgaridade, nada de “pegação”, nada de “esfregação”. Uma simples e perfeita
demonstração do mais sublime dos sentimentos – o amor.
E o amor foi a tônica do final da novela, quando César, talvez tocado
pela devoção do filho, talvez fragilizado pelo seu estado de saúde, reconhece o
amor que Félix lhe devota. Todas as desavenças, ódio, ressentimentos, tudo
acaba sendo esquecido com a frase “eu também te amo, meu filho”. Sei que ainda vai demorar
mais que uma geração para que essa frase seja dita por pais a seus filhos
homossexuais, mas somente o fato de uma emissora ter dado o primeiro passo já é uma grande
esperança. Que a tolerância seja nossa bandeira, e que, no futuro, ela seja
plenamente respeitada.
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