domingo, 25 de novembro de 2012

Somos preconceituosos


Essa semana a 8ª Câmara de Direito Privado de São Paulo condenou o jornalista Boris Casoy e a TV Bandeirantes a pagarem uma indenização de R$ 21 mil por danos morais ao gari Francisco Gabriel de Lima. Para quem não se lembra, na noite de 31 de dezembro de 2009, após Francisco Lima aparecer em uma vinheta desejando boas festas, uma falha técnica levou ao ar o áudio de Boris dizendo: “Que merda: dois lixeiros desejando felicidades do alto das suas vassouras. O mais baixo na escala do trabalho”.

A notícia não estava em destaque no site onde a li, mas ainda assim, em menos de quatro horas, mais de 300 comentários já haviam sido postados, a grande maioria criticando a atitude do jornalista, e até mesmo dizendo que o valor da indenização havia sido pouco, comparado aos lucros que a TV Bandeirantes tem e ao salário de Boris Casoy.

O comentário do profissional realmente foi lamentável ou, como ele mesmo diz, “uma vergonha”. Mas também lamento ter de dizer que é o tipo de comentário bastante comum no Brasil, onde as pessoas mais simples são constantemente desmerecidas apenas porque estão em degraus mais baixos das chamadas “pirâmides sociais”.

Indo mais longe, às vezes chego a acreditar que o preconceito no Brasil é muito mais social do que racial. Um bom exemplo é a maneira que hoje todo o país admira o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Joaquim Barbosa. Aliás, o que as pessoas mais admiram é a ascensão social dele, que veio de uma família humilde e hoje conquistou o mais alto posto jurídico do país. Barbosa, todos sabem, é negro. E nos comentários ninguém fala da sua origem étnica, a não ser para lembrar que ele não se valeu de cotas raciais para conquistar seu espaço.

Pelé também é orgulho nacional por seu desempenho no futebol. E as pessoas também não falam dele por sua cor, mas sim por seu profissionalismo, por ele ainda ser um símbolo do país no exterior, mesmo estando fora dos gramados há mais de 30 anos. Em ambos os casos, estamos falando de pessoas que, a despeito de sua origem racial, hoje estão no topo de pirâmide social – e por isso são respeitadas.

Porém, o preconceito que os brasileiros têm com os chamados “pobres” é notório. Se entramos em uma loja chique vestidos de maneira mais simples, somos sempre mal atendidos. Isso quando somos atendidos! Há muitos anos passei por uma situação assim em Piracicaba, havia saído do trabalho e entrei numa loja de grife para ver uma calça jeans. A vendedora – que com certeza comprava as roupas a preço de custo e parcelava em dez vezes – me atendeu como se eu não tivesse condições de comprar nada da loja. Isso porque, na concepção dela, o fato de eu não estar trajada com marcas famosas fazia de mim alguém sem poder aquisitivo.

Também já escutei gente falando que os aeroportos deviam ter uma ala só para “aquele povo pobre” que agora consegue viajar de avião. Oras, se eu quero ter uma ala exclusiva, então devo pagar primeira classe, e não querer impedir que os outros tenham o mesmo tratamento que eu.

A punição a Boris Casoy foi mais do que justa. Mas as nossas reações de indignação, tão veementemente discursadas, muitas vezes escondem nosso próprio preconceito contra aqueles que não possuem o que possuímos. Boris Casoy estava na televisão falando para milhões de pessoas. Mas será mesmo que, dentro de nossos lares ou entre amigos, não fazemos os mesmos tipos de comentários?

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