segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Reconhecimento tardio

Após a morte do cantor Wando, na última quarta-feira, vimos subitamente aparecerem de todos os lados fãs de um estilo que sempre era chamado de “brega”, no melhor sentido pejorativo. De repente, o estilo do cantor famoso por guardar as calcinhas das fãs passou a ser cult, e até mesmo gente que sempre o considerou ultrapassado e sem sucesso bradou aos quatro ventos que o adorava.
Sou daquelas que sempre gostou de Wando. Não ao ponto de ser fã do artista e ter todos os seus sucessos, mas gostava de ouvir os mais conhecidos. Recentemente, em meu aniversário, uma das músicas que o pessoal mais se animou a dançar foi “Fogo e Paixão”. Com coreografias estilo chacrete, eu e meus amigos nos divertimos muito, lembrando a época em que essa música era um estouro nas paradas das rádios.
A mesma coisa aconteceu agora que Whitney Houston morreu. Quando adolescente eu adorava seu estilo, tinha até uma fita cassete (que coisa antiga) que me foi dada por um paquera. Ouvi 500 mil vezes a fita pensando nele... Mas a época de ouro de Whitney acabou faz tempo e, diferente de Wando, que volta e meia aparecia no noticiário por conta de seu estilo inconfundível, a cantora sempre era lembrada por seu envolvimento com drogas ou alguma situação constrangedora, como sua fracassada turnê em 2010.
Mas não estou aqui para falar de quem curtia ou não Wando e Whitney, ou de quem passou a respeitá-los como artistas apenas após sua morte. Na verdade, refletindo sobre esse “amor” que surgiu do nada por eles, vi que agimos assim em nossas vidas, ou seja, depois que a pessoa morre, lembramos de quem ela era quando viva.
Isso pode ser visto dentro de nossas próprias famílias. Acredito que todo mundo deva ter aquele parente que não é muito chegado às pessoas, mas que, basta ficar doente ou morrer, vira santo. Aliás, costume geral no país: depois de morta, a pessoa jamais pode ser criticada. Afinal, não está ali para se defender.
Engraçado ver que, enquanto a pessoa era viva, estava ali, podendo ser vista e ouvido quando quiséssemos, era deixada de lado. Muitas vezes não temos o hábito de visitar parentes ou amigos, por falta de tempo, por preguiça, por simplesmente não nos importarmos. Aí, quando ela morre, lamentamos o não termos feito isso, ou somente lembramos suas qualidades, esquecendo até mesmo os defeitos que provavelmente nos afastavam dela.
Quando alguém como Wando ou Whitney morre, é clichê ouvirmos que o artista precisa morrer para ser valorizado. Também é comum vermos um despertar repentino de interesse por tudo que se refira ao artista em questão, por relançamentos de suas obras, por programas em sua homenagem, por repercussão entre colegas que, muitas vezes, sequer o respeitavam.
Assim agimos quando perdemos alguém que não lembramos em vida. Para talvez aliviar a consciência pesada, buscamos apenas falar das coisas boas, e até mesmo tentamos justificar o porquê de não termos sido mais presentes em vida. Nada disso, porém, consegue esconder aquilo que é óbvio: em vida, aquela pessoa não era importante. Morta, passa a ter valor. Uma pena que muita gente tenha de descobrir isso com mais frequência do que gostaria.

2 comentários:

Inaie disse...

Ja te contei que a minha mae perdeu o padrasto sem ter dito que o amava. E hoje, 40 anos depois,e la ainda carrega esse aperto no peito.

Eu ja saio desompensada, falando pra quem quiser ouvir, tudo o que sinto e o que penso.

MAs falando de musica brega, da uma lida nesse post http://brasilicus.blogspot.com/2012/02/delicia.html

ela e brilhante!!

Izabel Martin dos Santos disse...

Eu não me envergonho de ouvir Elymar Santos, assim como curto as populares de Wando, Sidnei Magal e outros, dou muito valor a Agnaldo Rayol, Angela Maria, Rosa Maria, Paula Lima entre muitas vozes maravilhosas e tão pouco reconhecidas por nós brasileiros, assim como gosto de ouvir uma boa música clássica, um bom rock, sertanejo, enfim, existem momentos para todo tipo de música, e quase sempre a música nos lembra um episódio passado ou uma pessoa, já li algo assim "quem ouve música sente sua solidão povoada", parabéns pela postagem.