terça-feira, 13 de abril de 2010

Caridade sem preconceito

Uma polêmica envolvendo os jogadores Robinho, Neymar e Ganso tomou conta dos jornais no início do mês, quando eles, na porta de uma entidade espírita que toma conta de 34 crianças com paralisia cerebral, se recusaram a entrar para distribuir ovos de Páscoa aos internos com a alegação de que entrar na casa seria agir contra seus princípios religiosos – os três são evangélicos.
Não vou falar aqui mal desta ou daquela religião porque, assim como não admito que falem da minha, não pretendo ofender a crença de ninguém. Mas posso falar dessas pessoas supostamente religiosas que, em nome de um “Deus” particular que somente elas têm no coração, tomam atitudes que contradizem frontalmente um dos princípios mais básicos de toda crença: a caridade.
Fazer caridade apenas com quem queremos, ou quando queremos, é bastante fácil. O que mais chocou na atitude dos jogadores foi que eles estavam na porta da entidade, ou seja, havia 34 crianças ansiosas esperando por aquela visita. Para consertar o que ficou muito feio para o time, essa semana os jogadores voltaram ao lar para entregar presentes às crianças. Um deles, Roberto Brum, chegou a levar toda a família para conhecer os internos.
Não sabemos se o que levou os atletas a retornarem ao lar foi a verdadeira caridade, ou uma jogada (sem trocadilho futebolístico) para que suas imagens voltassem a ser bem vistas pela mídia. Claro que nenhum torcedor vai deixar o time do coração por conta disso, mas o ocorrido havia deixado uma marca bastante negativa em todo o time santista – do qual metade, sem nenhum problema, entrou na casa no dia combinado para entregar os ovos.
Sempre fui da opinião que todo excesso é prejudicial. Também acredito que isso se aplica à religião. Para mim, de nada vale orar, rezar, bater no peito, acender vela, enfim, praticar todos os rituais existentes, e não ser capaz de praticar a verdadeira caridade fora da igreja ou templo religioso.
Conheço pessoas que vivem falando de Jesus, Deus, dizendo “amém”, “que bênção”, “glória a Deus”, e no entanto são incapazes dos mais elementares gestos de caridade com aqueles que não professam da mesma fé. O Deus em que eu acredito sempre pregou a bondade e a igualdade entre os homens – e não determinou que devo ajudar esse ou aquele dependendo da igreja que ele frequenta.
A atitude dos jogadores santistas foi lamentável, e um péssimo exemplo a quem os enxerga como ídolos. A maior prova de que eles mesmos sabem que agiram da forma errada foi seu retorno ao lar – seja lá por qual razão, eles quiseram mostrar que passaram por cima de suas ideologias religiosas. Quem mais ganhou foram as crianças, que tiveram momentos de alegria, em meio às limitações que a vida lhes impôs.

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