Que a Justiça brasileira é lenta todo mundo sabe. Infelizmente, nosso
sistema judiciário vive abarrotado de processos, que muitas vezes levam anos
para serem colocados em pauta e julgados, trazendo o sentimento de impotência e
revolta para quem espera a solução de um problema. Um dos grandes problemas
alegados para o enorme número de processos é a existência de casos que poderiam
ser solucionados entre os próprios litigantes, sem a necessidade de ser
recorrer a um juiz. Essas situações ajudam a sobrecarregar um sistema já falho
e lento, e ainda assim vemos diariamente casos sem o menor cabimento travando a
pauta dos juízes.
Essa semana vi um caso que me aturdiu não apenas pela idiotice do
processo, mas pelo absurdo da situação. Um aluno de Tobias Barreto, em Sergipe,
processou seu professor porque ele havia tirado seu celular, que estava sendo
usado em sala de aula. Segundo sua mãe, que o representou na ação, o garoto
havia sido tomado por um “sentimento de impotência, revolta, além de um enorme
desgaste físico e emocional” após ter o celular confiscado. No processo, ela
alega que o filho apenas olhava as horas. Porém, o comportamento era
reincidente, e quando ele tirou seu fone do ouvido, foi possível perceber que
ele estava ouvindo música em sala de aula.
Entre tantos absurdos nesse caso, para mim a posição da mãe foi a pior
de todas: ajudou o filho a mentir e o protegeu de um ato de total desrespeito
ao professor. Ao invés de mostrar a ele que sala de aula é lugar de estudo e
não uma “balada”, ela preferiu agir como se o professor fosse alguém pago para
aturar qualquer desaforo de sua cria mimada. Não me surpreenderá se, daqui a
alguns anos, esse garoto vire um criminoso. Afinal, se não sabe ouvir a palavra
“não”, achará que o mundo tem a obrigação de lhe servir – e irá tomar por força
aquilo que não lhe for dado por direito.
O juiz julgou improcedente ação e ainda deu uma bela lição em sua
sentença. “Julgar procedente esta demanda é desferir uma bofetada na reserva
moral e educacional deste país, privilegiando a alienação e a contra-educação,
as novelas, os ‘realitys shows’, a ostentação, o ‘bullying’ intelectivo, o ócio
improdutivo, enfim, toda a massa intelectivamente improdutiva que vem assolando
os lares do país, fazendo às vezes de educadores, ensinando falsos valores e
implodindo a educação brasileira”.
Num país em que absurdos são noticiados todos os dias, em que jovens
adoram jogar na cara das pessoas seus “direitos”, ler uma decisão dessas me
enche de esperança que a nossa educação ainda tem salvação – e não depende
apenas de professores, mas também de pais que entendam que a sala de aula não é
uma extensão de suas casas, mas sim um local de ensino e onde o docente deve
ser respeitado, e não tratado como um qualquer.
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