Somos todos juízes. Todos os dias nos deparamos com situações
diversas em que nos achamos no direito de determinarmos se esse ou aquele
comportamento está certo ou errado – claro, de acordo com nossos princípios.
Pequenos deslizes são cruciais para que, a partir deles decidamos se
determinada pessoa vale ou não a pena estar em nosso convívio. A cada dia mais,
estamos nos arvorando no direito de absolvermos ou condenarmos uma pessoa pelo
que ela é – mesmo que para ela nossa opinião não faça a mínima diferença.
Desde que o mundo é mundo que temos esse tipo de comportamento.
Antigamente, bastava uma mulher ser desquitada (que palavra antiga!) para que
sua moral fosse colocada em xeque. Um homem que não se comportasse como homem –
nunca entendi bem o que é “se comportar como homem”- já era visto de maneira
enviesada, e os comentários maldosos surgiam em todos os lugares onde ele se
encontrasse. A perda da virgindade de uma garota muitas vezes se transformava
no assunto principal de todo um grupo, que já determinava que ela não servia
para “casar”. O homem que não conquistasse um bom emprego também não era visto
como uma boa opção para um casamento. Afinal, quem ia querer ficar com um “pé
rapado”?
Todos esses julgamentos nos parecem bastante ultrapassados
hoje, e realmente são. Mas mostram que sempre nos demos o direito de determinar
o que era certo ou errado, sem nos preocuparmos em entender o que havia levado
a pessoa a adotar certa atitude. A enorme diferença que existe entre hoje e o
passado é que, naquela época, comentários maldosos e “julgamentos sumários”
ficavam sempre na esfera família, trabalho, bairro em que se morava. Bastava
mudar de seu bairro ou cidade para se esquecer a “má fama” e começar uma nova
vida sem julgamentos de caráter já estabelecidos.
A chegada da internet mudou tudo isso. Basta um clique para
que um comentário infeliz, uma foto ousada, um vídeo íntimo ou uma atitude mal
pensada sejam mostrados a milhares – até mesmo milhões – de pessoas com a
velocidade da luz. E uma vida até então sem problemas pode se transformar em um
inferno.
Disseminamos pelas redes sociais comportamentos
“inadequados” sem nenhum tipo de filtro, e automaticamente fazemos nosso
julgamento em comentários demolidores. Se a reputação da pessoa ficará manchada
para sempre não é nosso problema – afinal, quem mandou ela “errar”?
Porém, não nos damos ao mesmo trabalho de divulgação de
atitudes boas. Muito pelo contrário, lemos rapidamente o fato e o esquecemos. É
como se a necessidade de mostrarmos que somos melhores que a pessoa que fez
algo condenatório fosse maior do que aceitarmos que somos falhos e que existem
aqueles muito mais bem intencionados do que nós. Por isso, somos juízes o tempo
todo, sem nos lembrarmos de que, um dia, também seremos julgados.
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