Essa semana
todas as mídias foram tomadas pela história de um casal de moradores de rua que
achou R$ 20 mil e devolveu o dinheiro ao seu verdadeiro dono, o proprietário de
um restaurante. Com um desfecho digno de filme hollywoodiano, em que o bem
sempre vence o mal, o casal chegou a ser ameaçado de morte por quem havia
roubado o dinheiro, mas acabou sendo protegido e recompensado com emprego e um
lugar para morar pelo proprietário do restaurante.
Analisando
bem todo esse cenário, cheguei mais uma vez àquela velha (e triste) conclusão:
moro em um país onde a pessoa ser honesta e devolver dinheiro que não pertence
a ela é motivo de notícia em todas as mídias. Pior: por eles serem moradores de
rua, ou seja, pobres, parece que a atitude tem um valor maior ainda, como se
pobreza fosse justificativa para desonestidade.
Por falta de
heróis e por vivermos em uma sociedade onde o ter é essencial, e ser não vale
grande coisa, esse tipo de comportamento toma proporções inimagináveis em
países desenvolvidos como Suécia, Inglaterra, Alemanha, entre outros. Não que
nesses lugares não exista gente desonesta – a diferença é que para essas
sociedades ser honesto é o padrão, e não a exceção.
Claro que
achei louvável a atitude do casal, que precisava muito do dinheiro e ainda
assim preferiu continuar na pobreza a perder a honra, como disse o homem quando
perguntado sobre o porquê havia tomado aquela decisão.
Também foi
louvável a atitude do proprietário, que poderia simplesmente ter dito “muito
obrigado”, dado uma gorjeta e encerrado o assunto. Não que ele teria errado se
fizesse isso. Não acho que ele fez “sua obrigação”, porque não penso que pelo
fato de a pessoa ter dinheiro ela seja obrigada a fazer caridade. Do mesmo
jeito que as pessoas enxergam a devolução do dinheiro como algo fora do comum
(repito, ser honesto não é qualidade, é obrigação), deveriam enxergar a oferta
de emprego e casa como algo a ser admirado, principalmente em um país onde
raramente vemos gestos de generosidade desse tipo serem veiculados pela mídia. A
não ser, claro, que o gesto de generosidade seja feito por alguma “piriguete”
ou alguma “celebridade” em busca de mais espaço na mídia, o que é conseguido
sem muita dificuldade.
Para mim,
dessa história toda fica apenas uma conclusão: ainda estamos muito longe de
sermos um país desenvolvido, já que a honestidade é uma característica tão rara
que vira notícia apenas por ter sido praticada. Até por isso é comum nas
propagandas eleitorais os candidatos usarem o termo como se fosse um
diferencial entre os concorrentes. Ser honesto virou sinônimo de virtude, de
qualidade, de diferencial, quando deveria ser simplesmente a obrigação de
qualquer pessoa de bem.
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