quinta-feira, 10 de junho de 2010

O adeus que não quis dar

Há dez dias minha amiga Aline morreu. Durante três anos ela foi uma guerreira, lutando com todas as forças contra um câncer muito agressivo que, a despeito de todas as tentativas médicas, conseguiu vencer seu corpo, mas jamais quebrou seu espírito. Pouco antes de ser sedada, quando não havia mais o que fazer em termos médicos, Aline pediu à família que não desistisse dela. Foi o último apelo de uma pessoa que estava totalmente paralisada e até respirando por aparelhos, mas ainda tinha fé e acreditava na cura.
Conheci Aline na minha primeira sessão de quimioterapia. Sentada no fundo da sala, ela usava uma peruca linda, e sorria a todo mundo que entrava na sala. O infortúnio nos aproximou. Aquele primeiro sorriso foi a deixa para que dela eu me aproximasse e perguntasse onde ela havia conseguido aquela peruca. Na segunda sessão, eu já estava careca, e ela me disse que eu estava linda. Na terceira, fiquei sabendo que ela chorava comigo cada vez que iam me aplicar a quimio. A quarta ela fez um dia antes de mim, mas deixou seu telefone para que eu entrasse em contato.
Durante dois anos ela fez parte da minha vida quase que diariamente. Não nos víamos sempre, mas conversávamos bastante. Acompanhei a volta do câncer, o reinício da quimioterapia, e vi aos poucos a doença vencendo aquela mulher doce que, mesmo doente, estava sempre sorrindo e dizendo a todo mundo que ficaria curada.
Tive com ela uma ligação espiritual que não tenho com muitos amigos de muitos anos. E aí, por mais que eu esperasse, a morte veio. Quando chegou, não conseguia acreditar. Porque, por mais que a gente espere, por mais que nos preparemos para ela, por mais que tenhamos consciência de que aquele sofrimento precisa acabar, ainda assim, quando ela chega, não conseguimos entender.
Acho que a morte é a coisa mais sem compreensão que existe. A pessoa está ali e, de um minuto para o outro, não existe mais. Acredito que o espírito se mantenha vivo, mas saber que meu celular nunca mais vai tocar com o nome “Aline” piscando no visor dói. A morte é entrar no Orkut e ver que aquele perfil sorridente foi apagado. E saber que foi apagado por uma terceira pessoa, porque ela não estava mais aqui para fazer isso. É olhar nossas fotos, sempre sorrindo, e pensar que nunca mais poderei ter outro retrato com ela.
Não vi Aline ser enterrada. Guardei para mim a imagem daquela mulher alegre, confiante, guerreira, sincera e amiga. Mais que amiga, irmã. Porque ela foi a irmã que eu escolhi. Sinto que perdi uma parte de mim. Ao mesmo tempo, sei que ela está ao meu lado. A dor, com o tempo, se suaviza, mas a imagem, graças a Deus, nunca se apaga. Seja feliz onde estiver, minha amiga!

3 comentários:

Unknown disse...

Muito lindo seu texto, pena que as pessoas que nos fazem sermos diferentes, mais amáveis e acreditar num futuro melhor nos deixam, e ficamos assim meios orfãos.......

Unknown disse...

Linda mensagem de carinho. E com toda certeza ela te adorava e de onde estiver sempre estará acompanhando. Obrigado pela bela homenagem a nossa grande guerreira Aline.

Charleston

Dieine Costa disse...

Andréa que lindo artigo vc escreveu, ela foi uma grande guerreira, e agora está ao lado de Deus, tenho certeza que teve ter sido muito feliz pela oportunidade de ter te conhecido. Que Deus possa consolar o seu coração e das pessoas que à amavam. Bjus e fcDeus!!! Dieine Costa.