quarta-feira, 21 de outubro de 2009

O individualismo em alta

Acho que todo mundo conhece alguém individualista. Aquela pessoa que, se deixar, joga serviço nas costas dos outros, enrola, e não está nem aí para ninguém. E nem falo que ela prejudica os outros intencionalmente. É que, para ela, os demais simplesmente nem existem.
Esse individualismo em alta está hoje presente em todos os lugares: naquela vaga de deficiente físico ou idoso ocupada por alguém perfeitamente normal, na pessoa que chega de mansinho e fura a fila, nos motoristas que estacionam de qualquer jeito, ocupando duas vagas e se lixando para aqueles que também precisam parar no mesmo lugar.
Ontem fui ao banco e vi um exemplo claro desse individualismo. Havia apenas dois caixas para depósito funcionando, e um estava sendo usado por pessoas que não sabiam operar o sistema e estavam sendo ajudadas por uma funcionária. Assim, restava apenas um caixa em operação. O banco nem estava cheio, devia ter apenas umas quatro pessoas na fila, e na minha frente havia um homem esperando sua vez. No caixa estava uma mulher. Notei que ela estava demorando e imaginei que devia ter vários envelopes a depositar. Quando prestei atenção, vi que ela estava sossegadamente contando o dinheiro do depósito e nem havia preenchido o envelope. Aí ela parou, foi até a funcionária, pediu para trocar uma nota, voltou ao caixa, recontou o dinheiro e somente então começou a fazer seu envelope. Todo mundo na fila estava com o depósito pronto. Essa mulher ficou ocupando o caixa por cerca de dez minutos sem fazer absolutamente nada! Sim, porque contar dinheiro e preencher envelope a gente faz no balcão, e não na boca do caixa eletrônico, quando há pessoas atrás esperando. O tempo que ela usou ali seria o tempo que quem estava na fila demoraria para fazer seus depósitos. Mas, na ânsia de não perder seu lugar, ela nem se preocupou com isso. O importante é que ela estava em primeiro lugar, é claro!
Fato similar aconteceu outro dia no horário de almoço. Estávamos eu e uma amiga de trabalho na fila, que estava um pouco desorganizada, mas ainda assim era possível ver onde ela começava. Uma mulher apareceu e simplesmente entrou na frente da minha amiga, como se a gente nem estivesse na fila. Ela deve ter ganhado uns 30 segundos, se muito, de tempo em sua vida fazendo isso. Como ela não entrou na minha frente, não falei nada. Mas percebi que minha amiga não gostou nem um pouco do que tinha acontecido.
E aí vejo que esses individualistas são assim porque nós deixamos. Quando alguém fura a fila, vejo que todo mundo fica incomodado, mas raros são aqueles que mandam a pessoa voltar ao seu lugar, ou seja, atrás de todo mundo. Quando alguém perfeito usa a vaga do deficiente físico também é raro uma pessoa ir lá e mandá-lo tirar o carro de lugar. E quando uma folgada fica ocupando um caixa eletrônico sem fazer nada, os outros esperam pacientemente, no máximo resmungando em voz baixa.
E por que isso? Porque fomos criados em uma sociedade onde reclamar não é costume. Quem reclama normalmente é o estressado, o barraqueiro, o encrenqueiro. E falo por mim, porque eu jamais deixo alguém furar a fila em minha frente. Segundo meus amigos, eu me estresso à toa. Mas acho que me estresso mais se ficar vendo essas coisas absurdas acontecerem e não fazer nada. Esse comodismo tão comum a muita gente é que possibilita o aumento cada vez maior dos individualistas. E para mim, pior que quem age assim, são os que se omitem e preferem deixar tudo para lá. O comodismo é uma praga que, para ser eliminada, precisa de muita atitude. Infelizmente, essa mudança de mentalidade ainda não faz parte do nosso cotidiano.

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