A estatística divulgada pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada) no último dia 4 de que 26% dos homens concordam, total ou
parcialmente, com a afirmação de que "mulheres que usam roupas que mostram
o corpo merecem ser atacadas", corrigiu uma pesquisa anunciada uma semana
antes, quando essa porcentagem era de 65%. Para muitos, o novo número trouxe
uma sensação de alívio. Na verdade, a estatística ainda é muito alta.
Se pararmos para pensar, isso significa que um em cada quatro homens no
Brasil acredita que a roupa usada pela mulher é a causa do estupro. Esse
universo pode englobar nossos familiares, amigos, colegas de trabalho,
conhecidos. Por essa absurda lógica machista, a mulher que usa um vestido curto
deve ser violentada sexualmente. Comentários como “se ela estava assim é porque
queria chamar a atenção” são comuns quando um caso de estupro é divulgado. À
roupa que a mulher estava usando, muitas vezes, é dada mais atenção ao local
onde ela se encontrava, ou o horário em que o ato ocorreu. Afinal, a culpa pelo
ato, pelo machismo vigente no Brasil, é da vítima. O homem, como sempre, “foi
instigado” a cometer o crime.
Que a roupa seja usada para chamar a atenção é óbvio. Se não fosse
assim, homens e mulheres iriam de pijama a eventos sociais, sem se importar com
os olhares dos outros. Mas faz parte de todas as sociedades a vestimenta como
forma de chamar a atenção do sexo oposto. Porém, existe uma diferença
imensurável entre ser olhada e ser estuprada.
Ao usar um vestido curto ou blusa decotada uma mulher pode sim querer a
atenção masculina. Ela pode desejar ser admirada, paquerada, cortejada,
elogiada. Isso, porém, não significa que ela deseje sem tocada, acariciada em
suas partes íntimas, “encoxada” ou estuprada. A mulher também tem o direito de
escolher com quem quer um envolvimento físico. Ela não é obrigada a aceitar
passivamente o ato sexual porque seu vestido chamou a atenção de alguém que não
a atraiu fisicamente. Não será sempre não, em qualquer idioma.
Os defensores desse pensamento machista parecem se esquecer que o
estupro é um ato, acima de tudo, de poder. O estuprador sente prazer em
subjugar sua vítima, e não em conquistá-la. Se a roupa fosse a razão para o
estupro, bebês, crianças e idosos jamais sofreriam tal tipo de violência.
Estupro também é um crime de oportunidade. Se não fosse assim,
estupradores atacariam suas vítimas de biquínis em praias lotadas, e não as
esperariam em locais isolados para as subjugarem.
Para quem comemorou a correção da estatística, vale lembrar que 26%
ainda é um número alto. Nesse universo, até mesmo um amigo pode ser esse um
entre quatro que acha que você merece ser estuprada por usar roupa curta. E
pode, baseado nesse pensamento, cometer o estupro. Pense nisso.
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